Os recentes escândalos de corrupção no legislativo e
executivo brasileiro, expõem o modus
operandi de boa parte da classe política. Deputados, senadores,
governadores e ex-presidentes, eleitos democraticamente, hoje queimam nas
fogueiras da inquisição do judiciário. Alguns conseguem passes para o
purgatório, em troca da delação de seus pares. Será que o sistema corrupto
faliu? Será que finalmente a ordem natural de quem peca vai para o inferno, e
quem se mantêm correto vai para o paraíso, voltará a valer para a política
brasileira?
Há bem pouco tempo, ameaça nenhuma pairava sobre esta elite cidadã de Pasárgada. Via de regra, o perfil do representante variava de acordo com a orientação partidária. Se fosse de direita, ou era profissional liberal bem-sucedido, conhecido dentro de uma categoria, ou empresário com muitas posses. Se fosse de esquerda, seria um líder de alguma categoria, classe sindical ou estudantil. A semelhança entre eles era a mesma: a sede pelo poder.
A direita chegou ao poder primeiro. Até o fim da
ditadura, os partidos de origem socialista e/ou comunista não tinham atores
influentes politicamente. Quem queria ter um mandato sabia, que tinha de dispor
de dinheiro para comprar votos. Sendo eleito, encerrava-se ali o compromisso
com o eleitor. A partir dali os financiadores de suas campanhas seriam
beneficiados, através de contratos que resultariam no pagamento de futuras
propinas aos novos “representantes do povo”.
O proletariado inconformado viu nas promessas da esquerda o caminho da salvação, ascensão de classe e melhor qualidade de vida. A direita perdeu força e eleições. A esquerda governava, mas sabia que precisava continuar operando o mesmo sistema corrupto se quisesses continuar no poder. O povo assistiu 13 anos disso e não fossem alguns representantes do judiciário, não haveria “mensalão”, nem “lava-jato”, nem corruptos rangendo os dentes a procura de seus advogados.
Queria eu acreditar que estamos assistindo o fim de uma era medonha. Quero mesmo acreditar que o povo não admitirá mais maus governantes. No entanto, “eles” ainda estão lá, ainda tem as máquinas nas mãos. Ganhamos uma batalha, mas a guerra é de trincheira. Não basta esperar que os canhões do judiciário façam o trabalho por nós. A final, fomos nós que os elegemos. Queira Deus que possamos dizer, em breve, com orgulho que: “temos os governantes que merecemos”.
Dimas de Castro e Silva Neto
Professor Adjunto da Universidade Federal do Cariri
Doutorando na Universidade de Aveiro.
Artigo publicado no caderno OPINIÃO do Jornal "O POVO" de 17/10/2017~
https://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/10/a-lava-jato-prende-o-povo-aprende.html